sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Conferência de Bretton Woods, por André Oliveira, 12ºC

Bretton Woods foi o nome dado a um acordo de 1944 no qual estiveram presentes 45 países aliados e que tinha como objectivo reger a política económica mundial. Segundo o acordo de Bretton Woods as moedas dos países membros passariam a estar ligadas ao dólar variando numa estreita banda de +/- 1%, e a moeda norte-americana estaria ligada ao Ouro a 35 dólares. Para que tudo funcionasse sem grandes sobressaltos foram criadas com o acordo Bretton Woods duas entidades de supervisão, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

Preparando-se para reconstruir o capitalismo mundial enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda grassava, 730 delegados de todas as 44 nações aliadas encontraram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton Woods, New Hampshire, para a Conferência monetária e financeira das Nações Unidas. Os delegados deliberaram e finalmente assinaram o Acordo de Bretton Woods (Bretton Woods Agreement) durante as primeiras três semanas de Julho de 1944.

As experiências da Grande Depressão
Um alto nível de concordância entre os países sobre as metas e meios do gerenciamento económico internacional facilitou em muito as decisões tomadas pela Conferência de Bretton Woods. A fundação daquele acordo foi uma crença comum no Capitalismo intervencionista. Apesar de os países desenvolvidos diferirem quanto ao tipo de intervenções que preferiam para suas economias nacionais (a França, por exemplo, preferia um maior planeamento e intervenção estatal, enquanto os Estados Unidos eram favoráveis a uma intervenção estatal mais limitada), todos, no entanto, baseavam-se predominantemente em mecanismos de mercado e na noção de propriedade privada.

O surgimento do intervencionismo governamental
Os países desenvolvidos também concordaram que o sistema económico liberal internacional requeria intervencionismo do governo. Após a Grande Depressão, a administração pública da economia emergiu como uma actividade primeira dos governos de Estados desenvolvidos: emprego, estabilidade e crescimento eram então assuntos importantes da política pública. Com isso, o papel do governo na economia nacional ficou associado com a apropriação, pelo Estado, da responsabilidade de garantir a seus cidadãos um certo grau de bem-estar económico. O welfare state (estado protector) nasceu da Grande Depressão, que criou uma necessidade popular de intervencionismo estatal na economia, e das contribuições teóricas da escola económica Keynesiana, que defendia a necessidade de intervenção estatal a fim de manter níveis adequados de emprego

O surgimento da hegemonia dos Estados Unidos da América
A gestão económica internacional baseava-se na potência dominante para dirigir o sistema. A concentração de poder facilitou esta gestão na medida em que reduziu o número de elementos cujo acordo era necessário para o estabelecimento de regras, instituições e procedimentos e para levar a cabo o gerenciamento dentro dos sistemas em acordo. Esse líder foi os Estados Unidos da América. Como a potência com a economia e política mais avançadas do mundo, os EUA estavam claramente em uma posição ideal para assumir essa liderança.
Os EUA emergiram da Segunda Guerra Mundial como a mais forte economia do mundo, vivendo um rápido crescimento industrial e uma forte acumulação de capital. Os EUA não haviam sofrido as destruições da Segunda Guerra Mundial, tinham construído uma indústria manufactureira poderosa e enriqueceram vendendo armas e emprestando dinheiro aos outros combatentes; na verdade, a produção industrial dos EUA em 1945 foi mais do que o dobro da produção anual dos anos entre 1935 e 1939. Em comparação, a Europa e o Japão estavam dizimados militar e economicamente.
Quando a Conferência de Bretton Woods aconteceu, as vantagens económicas dos Estados Unidos eram indiscutíveis e esmagadoras. Os EUA tinham a maioria dos investimentos mundiais, da produção manufacturada e das exportações. Em 1945, os EUA produziam a metade de todo o carvão mundial, dois-terços do petróleo e mais do que a metade da electricidade. Os EUA eram capazes de produzir imensas quantidades de navios, aviões, automóveis, armamentos, máquinas, produtos químicos, etc. Reforçando a vantagem inicial e assegurando a liderança dos EUA no mundo capitalista os EUA detinham 80% das reservas mundiais de ouro e tinham não somente poderosas Forças Armadas, mas também a bomba atómica.
Na condição de maior potência mundial e uma das poucas nações não afectadas pela guerra, os EUA estavam em posição de ganhar mais do que qualquer outro país com a liberação do comércio mundial. Os EUA teriam com isso um mercado mundial para suas exportações, e teriam acesso irrestrito a matérias-primas vitais.
Os EUA não eram somente capazes de, mas também queriam, assumir essa liderança. Apesar de os EUA terem mais ouro, mais capacidade produtora e mais poder militar do que todo o resto do mundo junto, o capitalismo dos EUA não poderia sobreviver sem mercados e aliados. William Clayton, o Secretário de Estado assistente para Assuntos Económicos, foi uma das várias personalidades influentes na política estado-unidense que colocaram em evidência esse ponto: "Precisamos de mercados grandes mercados por todo o mundo, onde poderemos comprar e vender

A carta do Atlântico
Durante a guerra, os Estados Unidos da América imaginaram uma ordem económica mundial pós-guerra na qual os EUA pudessem penetrar em mercados que estivessem previamente fechados a outros blocos, bem como abrir novas oportunidades a investimentos estrangeiros para as empresas estado-unidenses, removendo restrições de fluxo de capital internacional.
A Carta do Atlântico, esboçada em Agosto de 1941 durante o encontro do presidente Roosevelt com o primeiro-ministro britânico Winston Churchill em um navio no Atlântico norte, foi o mais notável precursor à Conferência de Bretton Woods. Assim como Woodrow Wilson antes dele, cujos "Catorze pontos" (Fourteen Points) delinearam os objectivos dos Estados Unidos para a pós-guerra da Primeira Guerra Mundial, Roosevelt lançou uma série de objectivos ambiciosos para o mundo pós-guerra antes mesmo de os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial. A carta do Atlântico afirmou o direito de todas as nações a igual acesso ao comércio e à matéria-prima. Além disso, a carta apelou pela liberdade dos mares (um objectivo principal da política estrangeira estado-unidense desde que a França e o Reino Unido ameaçaram navios estado-unidenses nos anos 1790), o desarmamento dos agressores e o "estabelecimento de um amplo e permanente sistema de segurança geral."

1 comentário:

JAPRIM disse...

Muito esclarecedor seus apontamentos acerca da Conferência de Bretton Woods. Recentemente me submeti a um exame nacional sobre Direito e uma da questões trazia a afirmação de que a refereida conferência teria estabelecido beases do sistema econômico e financeiro internacional para a criação, alé, do DIRB e do FMI tambem para o GATT. Voce concordo. Tem fundamento historico para isso?